O POÇO E A PEDRA

“Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; pelo que, por amor do teu nome, guia-me e encaminha-me.”
Salmos 31.3

Um velho peregrino caminhava por uma estrada quando, do meio da relva alta, surgiu um homem jovem de grande estatura e com olhos muito tristes.
Assustado com aquele aparecimento inesperado, o peregrino parou e perguntou se poderia fazer algo por ele. O homem abaixou os olhos e murmurou envergonhado:
– Sou um criminoso, um ladrão. Perdi o afeto de meus pais e dos meus amigos. Como quem afunda na lama, tenho praticado crime após crime. Tenho medo do futuro e não sinto sossego por nenhum instante. Vejo que o senhor é um velho peregrino, alguém com mais experiência do que eu, livre-me então desse sofrimento, dessa angústia! Pediu ajoelhando-se.
O homem, que ouvira tudo em silêncio, fitou os olhos daquele jovem e alguns instantes depois disse:
– Estou com muita sede. Há alguma fonte por aqui?
Com expressão de surpresa pela repentina pergunta, o rapaz respondeu:
– Sim, há um poço logo ali, porém nele não há roldana, nem balde. Tenho aqui, no entanto, uma corda que posso amarrar na sua cintura e descê-lo para dentro do poço. O senhor poderá tomar água até se saciar. Quando estiver satisfeito, avise-me que eu o puxarei para cima.
O velho peregrino sorrindo aceitou a ideia e logo em seguida encontrava-se dentro do poço. Pouco depois, veio a voz do peregrino:
– Pode puxar!
O jovem deu um puxão na corda empregando grande força, mas nada do homem subir. Era estranho, pois parecia que a corda estava mais pesada agora do que no início. Depois de inúteis tentativas para fazer com que o peregrino subisse, o jovem esticou o pescoço pela borda, observou a semiescuridão do interior do poço para ver o que se passava lá no fundo. Qual não foi sua surpresa ao ver o velho peregrino firmemente agarrado a uma grande pedra que havia na lateral. Por um momento ficou mudo de espanto, para logo em seguida gritar zangado:
– Hei, que é isso? O que faz o senhor aí? Pare já com essa brincadeira boba! Está escurecendo, logo será noite. Vamos, largue essa rocha para que eu possa içá-lo.
De lá de dentro o peregrino pediu calma ao rapaz, explicando:
– Você é grande e forte, mas mesmo com toda essa força não consegue me puxar se eu ficar assim agarrado a esta pedra. É exatamente isso que está acontecendo com você. Encontra-se firmemente agarrado a ideias negativas sobre si mesmo. Desse jeito, mesmo que eu ou qualquer outra pessoa faça grande esforço para reerguê-lo, não vai adiantar nada. Tudo depende de você. Somente você pode resolver se vai continuar agarrado ou se vai se soltar. Se quer realmente mudar, é necessário que se desprenda dessas ideias que o vêm mantendo no fundo do poço. Desprenda-se e liberte-se.
A escuridão nada mais é do que a falta de luz, assim como o mal é a ausência do bem. Abandonemos as pedras da ignorância e do medo que nos mantêm prisioneiros de nossas próprias imperfeições, nos poços do egoísmo e do orgulho.
A única rocha em que devemos nos apegar é o Senhor… pense nisso!

às