O VENTO DEBAIXO DAS MINHAS ASAS – Carol Kline

Em 1959, quando Jean Harper estava na terceira série, sua professora passou uma redação sobre o que eles queriam ser quando crescessem. Ela colocou seu coração na redação e incluiu todos os seus sonhos: queria pulverizar inseticida nas lavouras, pular de pára-quedas, ver as nuvens (algo que havia visto em um programa de TV) e ser piloto de avião. Sua redação voltou com uma nota zero. A professora lhe disse que aquilo era “um conto de fadas” e que nenhuma das ocupações que ela listara eram profissões para mulheres. Jean ficou arrasada e humilhada.
Mostrou a redação a seu pai e ele disse que é claro que ela podia se tornar piloto.
– Veja Amelia Earhart – ele disse. – Essa professora não sabe do que está falando.
Porém, conforme os anos se passavam, Jean foi massacrada pelo desencorajamento e negatividade que encontrava sempre que falava a respeito de sua carreira.
Até que finalmente Jean desistiu.
Quando estava no último ano do segundo grau, sua professora de inglês era a Sra. Dorothy Slaton, uma professora inflexível e exigente que possuía altos padrões e pouca tolerância para desculpas. Recusava-se a tratar seus alunos como crianças, esperando, ao invés, que se comportassem como adultos responsáveis para serem bem-sucedidos no mundo real após a formatura.
Um dia, a Sra. Slaton passou um dever para a turma: “O que vocês acham que estarão fazendo daqui há dez anos?”
Por segurança, ela escreveu que seria garçonete.
A Sra. Slaton recolheu as redações e nada mais foi dito. Duas semanas depois, a professora devolveu o dever, de cabeça para baixo em cima de cada carteira e fez esta pergunta: “Se você possuísse uma quantidade ilimitada de dinheiro, acesso ilimitado às melhores escolas, talento e habilidades ilimitados, o que faria?” Jean sentiu uma onda do antigo entusiasmo e, animada, escreveu todos os seus antigos sonhos. Quando os alunos pararam de escrever, a professora perguntou:
– Quantos alunos escreveram a mesma coisa dos dois lados do papel?
Nenhuma mão se levantou.
A próxima coisa que a Sra. Slaton disse mudou o rumo da vida de Jean. A professora se inclinou por cima de sua carteira e disse:
– Tenho um segredo para vocês todos. Vocês têm talento e habilidades ilimitados, acesso a boas escolas e podem conseguir uma quantidade ilimitada de dinheiro se desejarem algo com fervor. Quando terminarem a escola, se não correrem atrás de seus sonhos, ninguém irá fazê-lo por vocês. Vocês podem ter o que quiserem, se desejarem o bastante.
A mágoa e o medo de anos de desencorajamento desmoronaram frente à verdade do que a Sra. Slaton havia dito.
Jean agradeceu à Sra. Slaton e lhe contou sobre seu sonho de se tornar piloto. A Sra. Slaton levantou-se ligeiramente e bateu com as mãos no tampo da mesa: – Então faça isso! – disse.
E Jean fez. Não aconteceu do dia para a noite. Levou dez anos de trabalho duro, encarando oposições que iam do ceticismo silencioso à hostilidade declarada.
Tornou-se piloto particular e então conseguiu graduação suficiente para transportar carga e até mesmo aviões de passageiros. Seus patrões hesitavam claramente em promovê-la porque era mulher. Até mesmo seu pai a aconselhou a tentar outra coisa.
– Impossível – ele disse. – Pare de bater com a cabeça na parede!
Mas Jean respondeu:
– Eu discordo, papai. Acredito que as coisas irão mudar e quero estar entre as primeiras quando isso acontecer.
Jean foi em frente e fez tudo o que a sua professora da terceira série considerava “um conto de fadas” – pulverizou plantações, pulou de paraquedas algumas centenas de vezes e até mesmo semeou nuvens, como modificação climática, durante um verão. Em 1978 tornou-se uma das primeiras três mulheres a serem aceitas como piloto pela United Airlines e uma entre apenas cinquenta pilotos comerciais mulheres no país naquela época. Hoje, Jean Harper é piloto de Boeing 737 na United.
Foi o poder de uma palavra positiva bem colocada, uma fagulha de encorajamento vindo de uma mulher que Jean respeitava, que deu à insegura garota a força e a fé para perseguir seu sonho. Hoje, Jean diz:
– Eu escolhi acreditar nela.

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