OBSTÁCULOS ILUSÓRIOS – Heidi Marotz

Meu marido Scott usara suas pernas para conseguir bolsas de estudo através de campeonatos de esqui na faculdade e para chegar ao topo do Grand Tetons, em Jackson Hvle, Wyoming. Então, sem nenhum aviso, durante um mês de abril atipicamente quente, descobriu-se um tumor na espinha dorsal de Scott. Disseram-nos que a morte, ou a paralisia, poderia ser o resultado final.
Nossos filhos variavam em idade de sete a dois anos. Eles não entenderam tudo o que estava acontecendo, mas foram os maiores torcedores e os melhores professores quando Scott descobriu que continuaria a viver, mas que estava paralisado do tórax para baixo.
Os adultos, às vezes, ficam presos à imagem de como as coisas eram. Eu pensava sobre o que Scott não faria com seus filhos. Chase, Jillian e Hayden estavam muito ocupados com as coisas da vida para ficarem atolados no que seu pai não podia fazer. Ficavam de pé nas rodas da cadeira e gritavam de prazer, enquanto ele apostava corridas em calmos corredores de hospital.
As crianças insistiam para que seu pai “tentasse ficar de pé”. Eu ficava com medo de que Scott caísse. As crianças riam com ele quando ele caía e rolava na grama. Eu gritava, mas eles insistiam para que ele “tentasse novamente”.
Na época eu entrei para um curso de Desenho numa faculdade local. Durante uma semana, o instrutor nos disse que não podíamos desenhar coisas, mas apenas o espaço entre as coisas.
Um dia, enquanto eu estava sentada debaixo de um enorme pinheiro desenhando o espaço entre os galhos, comecei a ver o mundo como Scott e as crianças o viam. Não vi os galhos como obstáculos que podiam impedir uma cadeira de rodas de atravessar o gramado, vi todos os espaços que permitiam a passagem de cadeiras de rodas, pessoas e até mesmo animais pequenos.
Quando eu não estava me concentrando nos galhos – ou nos obstáculos da vida – adquiria uma nova visão de todos os espaços. Estranhamente, quer você desenhe os espaços ou os galhos, o desenho parece ser basicamente o mesmo. É a forma como você o vê que é diferente.
Conforme experimentávamos todas essas novas aventuras, Scott começou a ficar de pé e a andar com a ajuda de uma bengala. Ele ainda não sente nada na parte inferior de seu corpo e nas pernas, não pode correr ou andar de bicicleta, mas desfruta de muitas experiências novas.
Algumas pessoas veem barreiras na estrada. Scott nos ensinou que barreiras são apenas desvios. Algumas pessoas veem galhos: Scott e as crianças veem espaços abertos, grandes o suficiente para que todo o amor e esperança que cabem no coração possam passar.

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