NUNCA DESISTA – Jason Morin

“Oportunidade: frequentemente ela vem disfarçada sob a forma de infortúnio ou derrota temporária.”
(Napoleon Hill)
– Você tem o prognóstico de alguém em uma cadeira de rodas, Jason – disse o médico com uma voz que sua profissão reserva para doenças graves. – Pode acabar perdendo sua visão, coordenação, até mesmo o controle da bexiga.
As palavras atingiram a mim e a minha mulher em cheio. Eu estava com vinte e sete anos e tinha esclerose múltipla. Queria atracar-me com essa notícia, mas naquele momento só conseguia pensar em terminar aquela consulta. Esse médico não ofereceu esperanças e estava assustando minha mulher e a mim durante o processo.
Olhei de esguelha para Tracy, que começou a chorar baixinho. Inclinei-me para reconfortá-la, minha alma gêmea.
Eu trabalhava no negócio de construções junto com meu pai, que era o dono da companhia. Levantávamos edifícios do nada e era um trabalho duro e exigente, com longas horas. Mas eu adorava. Andava pelas estreitas vigas de aço desde a tenra idade de quatorze anos e provavelmente me sentia mais à vontade em um canteiro de obras do que em qualquer outro lugar. Meu pai me ensinou os macetes.
Eu não aguentava a ideia de deixá-lo na mão agora. Depois de deixar Tracy em casa, mencionei que tinha que passar no escritório para pegar algo. Porém, na verdade, queria fazer uma visita a um lugar que conhecia há muito tempo.
Sentei-me no banco da igreja, sentindo memórias de infância me inundarem. Meus olhos estavam bem fechados enquanto eu orava ansiosamente.
– Querido Deus – eu disse. – Não tenho medo por mim, mas sim de desapontar minha esposa e minha família – eles contam tanto comigo. Por favor, ajude-me.
Levantei-me, saí da igreja e esperei que minhas orações fossem atendidas. Se havia um momento para manter a força de minha fé era aquele.
Algumas semanas mais tarde, o jornal local apresentou uma matéria na seção de esportes sobre um homem chamado Pat. Era como se um pequeno milagre cruzasse o meu caminho. Pat era professor de Educação Física na universidade estadual e vencera a esclerose múltipla com a ajuda de uma dieta rígida.
Finalmente eu encontrara um aliado, alguém com os mesmos sintomas e provavelmente as mesmas dúvidas e medos. Pat e eu nos encontramos e conversamos durante horas sobre suplementos alimentares, vitaminas e exercícios. Mas essas seis palavras ecoavam no meu cérebro:
– Você pode fazê-lo, Jason. Nunca desista.
Comecei uma dieta especial e um programa de exercícios elaborados para pacientes de esclerose múltipla e mantive-me fiel a eles.
Houve muitos dias negros também. Dias em que eu tinha que pedir a Tracy que me ajudasse a terminar de me vestir. Durante tudo isso ela foi espetacular, dando-me o amor e o apoio de que eu precisava. Sentia-me tão abençoado! Gradualmente minha recuperação tomou forma. Depois de algum tempo, as palavras do médico pareciam estar longe.
Finalmente senti-me pronto para estabelecer um objetivo para mim mesmo.
O desafio veio sob a forma de fisiculturismo natural. Eu havia jogado futebol americano no ginásio e na faculdade e certamente não era um estranho à sala de musculação.
Comecei a treinar diligentemente com um treinador seis dias por semana. Ele me passou diferentes séries de exercícios com pesos. Meu objetivo era competir em um campeonato de fisiculturismo.
Alguns meses depois, todas as horas de suor e treinamento me levaram a uma competição que incluía uma sequencia de três minutos. Encontrei-me em um auditório cheio de pessoas. Completei minha seqüência – exibindo o corpo que havia lutado tanto para conseguir – e saí. Enquanto esperava que os juízes calculassem a minha pontuação, vislumbrei minha família e amigos na quarta fileira. Quando os juízes anunciaram que eu ficara em sexto lugar, senti uma onda de orgulho e alívio. Enquanto fazia uma reverência, dei uma olhada rápida para minha família, que estava toda de pé batendo palmas e gritando o mais que podiam.
Antes de sairmos para celebrar em um restaurante próximo, meu pai se aproximou e colocou as duas mãos diretamente nos meus ombros.
– Jason, estou muito orgulhoso de você. No que me diz respeito, você é o número um! – disse, olhando-me dentro dos olhos.
– Construímos fundações em nosso ramo, mas deixe-me dizer-lhe: as verdadeiras fundações na vida são a família.
Dei um abraço apertado em meu pai então e vi, por cima de seu ombro, Tracy fazer o sinal de positivo com o polegar e me deslumbrar com um sorriso que eu nunca tinha visto.
Hoje, Tracy e eu somos os pais orgulhosos de duas meninas. Elas são mais preciosas do que jamais poderíamos imaginar. E todos os dias lembro-me das palavras de meu pai: as verdadeiras fundações da vida são a família.

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